quarta-feira, dezembro 01, 2010

Meu pai: Big Fish e outras histórias

Inesperadamente, depois de uma melhora, meu pai faleceu. Segunda-feira, depois de ter saído do setor de cuidado intensivo e ido para o quarto, ele teve uma hemorragia, parada cardio-respiratória e não aguentou.

Enterrei meu pai ontem com muita tristeza, tentando brincar e manter o bom humor, era o que ele fazia, era o que ele gostava. Muito espiritualizado ele dizia: "Não me alegro por nascimento, não choro por morte."

Ele viveu intensamente e como quis. Viajou pelo país e conheceu muita gente. Como o personagem de Albert Finney em Big Fish, seu velório tinha gente de todo tipo, gratas e com boas lembranças da passagem dele por suas vidas.

Ele se foi no dia do aniversário da minha irmã. Nessas horas, não importa a idade, acho que qualquer um se sente como uma criança que se perdeu no supermercado, sem chão.

Por isso, vou repetir um post que escrevi em 05 de março de 2004, porque assim foi a vida de meu pai, assim ele será lembrado por mim e por todas as pessoas que passaram pela vida dele. Como um peixe grande.

sexta-feira, 5 de março de 2004
Big Fish

Semana passada eu fui ao cinema assistir Peixe grande... adorei o filme!! Sozinha... e chorei, me emocionei... eu não esperava me identificar tanto com a estória...

O personagem se parece demais com meu pai!! As estórias que ele conta, a relação dele com a esposa, com o filho, nossa!!

Meu pai é uma figura bem divertida, cheio de histórias e estórias, por onde passa faz amigos e atrai a simpatia de todos...

Ontem eu estava lendo uma estorinha do Chico Bento e me lembrei dele... era assim: o Chico Bento trabalhando na horta e um moleque vinha e ficava falando da vida de todo mundo.

E dizia, como é que pode seu Fulano conseguir isso, dona Cicrana consegue aquilo... e no final o Chico Bento colhia aqueles legumes lindos e quando ele via se perguntava: Olha só, cada legumão, como é que ele consegue??

Tem gente que é assim mesmo né?? Fica parada, vendo os outros trabalharem e depois não entende como é que eles conseguem sucesso nas coisas...

Essa é uma das histórias de meu pai...

Onde nós morávamos eram três casas juntas, numa ponta morava minha avó, no meio Dona Teresa e na outra ponta meus pais...

Eu era muito pequena, quando saímos dessa casa eu tinha 5 anos, mas me lembro que Dona Teresa tinha um marido que bebia, um monte de filhos, tinha um cheiro ruim e sentava-se na escada de vestido sem calcinha...

Minha avó tinha o apelido de Bahia. Todos os dias bem cedinho, quando vovó estava lavando roupa dona Teresa ia pro quintal dela e ficava lá, falando sem parar... quando já estava perto da hora do almoço ela dizia: "ah Bahia, deixa eu ir que hoje não tive tempo nem de pentear o cabelo!"

Meu pai que sempre foi vendedor, normalmente estava em casa de manhã e sempre via Dona Teresa fazendo isso, um dia ele não se conteve...

- Ai Bahia, deixa eu ir embora porque hoje não tive tempo nem de pentear o cabelo!!
E ele: - Dona Teresa, porque a senhora não aproveita quando vem aqui conversar com Bahia e traz um pente?? Enquanto a senhora bate papo vai penteando o cabelo...
- Hã...


Muita saudade eu terei de suas histórias, da rabujice, de sua alegria e de como, mesmo não sendo o melhor pai do mundo, ter conseguido me criar sendo uma pessoa melhor.

14 comentários:

Afrodite disse...

Que notícia triste,amiga!Sinto muito por seu falecimento!
Imagino a tua dor,a tua tristeza,mas lembre que agora ele está em um lugar melhor e que vcs vão se encontrar qd for a tua hora!
Guarde na lembrança as melhores memórias dele e sempre lembre dele com um sorriso par auqe ele fique feliz com os teus pensamentos.
Se eu puder te ajudar em algo,póde contar comigo!
Beijo
Afrodite

Cris Medeiros disse...

Pois É amiga! Você me ligou me informando da morte do seu pai na hora que ia viajar. Que coisa triste... Conversamos um pouco sobre isso agora no telefone e agora vim pra internet, já que tem um pc na porta do quarto do hotel onde estou... Resolvi vir aqui ler seu post...

Lamento muito, sei que deve estar sendo bem difícil. Conversamos melhor quando voltar de viagem!

Silvia Cristina disse...

Oi Jade.
Muita força, viu?
Mão sei muito o que dizer nessas horas, sou pessima com isso...
Mas, pessoas que deixam boas lembranças são eternas, falo isso de coração.

Nesse post aprendi muito, pode acreditar... Ele era um homem sábio, com certeza

Beijos e fique com Deus

Marcos disse...

Meus mais sinceros sentimentos pela perda. Eu perdi meu pai há 7 anos e essa semana sonhei muito com ele... foi como matar a saudades que ficou.

O triste de perder uma pessoa amada é o vazio que ela deixa. Mesmo que ela esteja preparada para a morte, e até entendemos que será a melhor opção (meu pai teve um cancer destruidor), mas mesmo assim sentimos a falta e isso que nos faz chorar.

Sinto pela sua perda e que vc consiga conforto sempre que a saudade bater.

bjs

Carla Farinazzi disse...

Jade,

Poxa, lamento muito por isso, lamento muito pelo falecimento do seu pai. E queria dizer que me envolvo na sua lembrança. Nas suas lembranças... Daquelas coisas simples de antigamente, que tanto nos inundavam.

Queria só lhe dizer que, aonde quer que seu pai esteja, irá sempre olhar por você... E, de alguma forma, quis vir aqui para lhe dar uma palavra de solidariedade... tipo: Jade, conta comigo, tá?!!

Um beijo grande, querida, força aí. Sempre.

Beijão

Carla

Tatiana disse...

Puxa Jade,nem sei o que te dizer, mas posso ter uma ideia do que voce esta sentindo,tambem perdi o meu pai,ha 11 anos atras e sei o que é sentir esse estranho vazio!
Te desejo muita força nesse momento difícil!Graças a Deus o tempo é nosso aliado e ameniza um pouco o que sentimos, deixando so as boas recordações!!!
Beijocas!

Mulher de Fases™ disse...

Poxa ... sinto muito, de verdade.
Força e serenidade !!

Neto Cury disse...

Só posso te desejar força e serenidade nesse momento, pois o tempo cicatriza todas as feridas, fazendo com que a dor se vá, ficando apenas as boas memórias e se elas existem fica apenas a gostosa saudade.
Beijo

Sissi H. disse...

minha querida, nao sei nem o que te dizer! por mais que sejam conflitantes relacionamentos entre pais e filhos, a gente nao se imagina vivendo sem eles, sinto muito, queria poder te dar um abraço apertado! daqueles sentidos mesmo! fique bem!

Rubi disse...

Querida Jade, só agora vim aqui. Lamento muito o sucedido. Vamos pensar que ele agora é uma estrelinha no céu, a olhar os que ama e a protegê-los. Um grande abraço com carinho!

Anônimo disse...

Sinto muito.
Tenho uma D. Teresa na memória, que se chamava D. Célia, visitava minha avó todos os dias...
As histórias vão ficar para sempre, e acho que a presença também, é assim com a minha avó.

Patrícia

Joana Homem da Costa disse...

Um grande, grande beijinho de muita força neste momento.

Codinome Beija-Flor disse...

O que dizer? Não faço idéia.
Não sei se vou na onda do seu humor, ou mergulho com vc nesse momento de dor.
Se fosse para ir na onda do seu humor, eu diria que ele foi convocado para contar "estórias e causos", alegrar outros mundos.
Já na dor, sei bem o que você sente, embora eu não saiba o quanto é a imensidão so vazio que seja a falta de pai e mãe, pois felizmente tenho os meus. Mas os sustos nos dão a idéia do que venha ser essa dor.
Só posso dizer que estou com você sempre.
Bjos

Mari (Pedra de Alquimia) disse...

Vão-se as estórias, fica a saudade eternamente dentro de nós...

Beijo e abraço carinhoso amiga flor.